1128: A Batalha de São Mamede e a Milenar Forja da Portugalidade – Rumo aos 900 Anos de um Legado Inextinguível

Figura Nº 1: Visão artística de Gaspar do Amaral sobre a Batalha de São Mamede (imagem gerada por IA)

Audio Nº 1: Audio artístico de Gaspar Amaral da Canção: Afonso Henriques, o Alvorecer de São Mamede (audio gerado por IA)

  1. Introdução: Em 2028, Guimarães, o berço da nação portuguesa, assinalará o nono centenário da Batalha de São Mamede. Longe de ser meramente um episódio bélico, este evento seminal constituiu o prólogo da identidade nacional, e é sob uma lente histórica de longo prazo que o perspetivamos neste artigo de um apaixonado pela vida e obra de Afonso Henriques que é o associado nº 23 da Grã Ordem Afonsiva. A interpretação visual da Batalha por Gaspar do Amaral (Figura Nº 1) e a ressonância poética da sua canção “Afonso Henriques, o Alvorecer de São Mamede” (Áudio Nº 1) ecoam a complexidade e as múltiplas facetas de processos históricos que moldaram Portugal. Intitulado “1128: A Batalha de São Mamede e a Milenar Forja da Portugalidade – Rumo aos 900 Anos de um Legado Inextinguível”, este estudo propõe uma análise da fundação de Portugal, tendo este confronto vital como fulcro. Fundamentado numa revisão de literatura detalhada e enriquecida por uma perspetiva histórica abrangente – que procura paralelos com a análise estratégica e a avaliação de legados a longo prazo inerentes à minha experiência militar e na engenharia –, desvendam-se as camadas de significado histórico e cultural que culminaram na emergência de um reino singular e na expansão da sua língua e influência global. Revisitando a perspicaz observação de Diogo Freitas do Amaral sobre o papel central do primeiro rei na nossa independência (2000, p. 2), este trabalho também se debruça sobre a ação desse protagonista fundamental que é o nosso primeiro português.
  2. São Mamede: O Ponto de Rutura na Longa Maturação da Identidade Portucalense. A historiografia consistentemente aponta a Batalha de São Mamede como o catalisador da independência portuguesa. José Mattoso, na sua “História de Portugal” (2014), detalha o contexto de crescente autonomia do Condado Portucalense face ao Reino de Leão, um processo que ganhou ímpeto ao longo do século XI. A atribuição do Condado a D. Henrique de Borgonha e o seu subsequente governo estabeleceram as premissas para uma identidade política singular, impulsionada por uma nobreza local com interesses bem definidos e uma consciência crescente de diferenciação cultural (Freire, 1999, p. 45: “A crescente autonomia dos condes portucalenses face ao poder leonês é um traço distintivo do século XI.”). A menoridade de Afonso Henriques e a regência de sua mãe, D. Teresa, cuja política pendia para a Galiza, agudizaram as tensões existentes. Como António José Saraiva pertinentemente assinala em “História Concisa de Portugal” (2001, p. 37: “A batalha de S. Mamede… pôs termo à influência galega e afirmou a autonomia do partido portucalense.”), o embate de 1128 extravasou a esfera de uma disputa familiar, configurando-se como um choque entre fações com visões inconciliáveis sobre o futuro do território. A vitória do jovem Afonso, aos 19 anos, selou a afirmação da nobreza portucalense e a rejeição de uma ingerência externa que comprometia a sua autonomia nascente. Os versos de Gaspar do Amaral da canção, no Audio nº 1 – “De São Mamede, o grito ressoa, Afonso, o primeiro, a conquistar” – capturam a essência deste momento de inflexão, onde a audácia de um líder jovem convergiu com as aspirações de um povo, num território, na procura da autodeterminação.
  3. Sob a perspetiva militar do autor deste artigo, a Batalha de São Mamede é visualizada não apenas como um confronto, mas como o início de uma estratégica, onde a correta avaliação do terreno e das forças em contenda se revelou importante para o sucesso. Tal como Carl von Clausewitz, na sua Da Guerra, enfatiza a importância da compreensão do teatro de operações e do equilíbrio de forças para o sucesso militar, a análise de São Mamede revela como a avaliação precisa do terreno da Ataca, em Guimarães e das forças em disputa entre Afonso Henriques e as tropas de D. Teresa foi fundamental. Este aspeto ressoa com os ensinamentos de Sun Tzu, na A Arte da Guerra, que sublinha o conhecimento do inimigo e do terreno como pilares para evitar a derrota.
  4. Da Batalha à Consolidação do Reino: Guerra, Diplomacia e a Emergência da Língua: O período subsequente à Batalha de São Mamede foi marcado por uma dinâmica incessante de campanhas militares e intrincadas manobras diplomáticas lideradas por D. Afonso Henriques. A Reconquista Cristã, processo secular que reconfigurou a Península Ibérica, tornou-se para o jovem líder não só um movimento de libertação, onde a vida e a morte se visualizava na fé dos contendores, mas também um instrumento estratégico de expansão territorial e consolidação da sua vontade de poder nascer a liberdade de ser. As conquistas de cidades como Santarém e Lisboa em 1147, com a significativa participação de cruzados, não só expandiram as fronteiras do Condado, como também fortaleceram a sua legitimidade e projeção no cenário ibérico (Riley-Smith, 1987, p. 78: “The participation of crusaders in the Iberian Peninsula… was a significant factor in the Christian victories.”). Em paralelo à guerra, a diplomacia revelou-se um vetor fundamental. A letra da música do autor, no Audio Nº 1 – “Da Batalha de 24 de Junho à escrita, um dom singular” – evoca esta transição da luta armada para a afirmação através de instrumentos formais e reconhecimentos internacionais.
  5. É neste intrincado contexto que a emergência da língua portuguesa como um elemento distintivo adquire relevância primordial. Derivada do galaico-português, a língua vernácula começou a afirmar-se como um traço identitário do Condado Portucalense, demarcando-o dos seus vizinhos galegos e leoneses. Os primeiros documentos escritos em português, datados deste período, testemunham a consolidação de uma expressão linguística própria, um “rio, a saga a correr”, na poética descrição de Gaspar do Amaral na canção referida. A língua, portanto, transcendeu a sua função comunicativa, erigindo-se como um pilar fundamental na construção da identidade nacional, um legado que se propagaria pelos séculos vindouros, como esta nova canção justamente celebra ao evocar “Luanda e Maputo, a história a contar, Brasília e Díli, em luz a brilhar”.
  6. O Legado Milenar: De Guimarães ao Mundo Lusófono. Com uma visão milenar, a trajetória iniciada na Batalha de São Mamede (1128) culmina numa diáspora cultural e linguística de proporções globais. O pequeno condado que ousou desafiar a ordem estabelecida metamorfoseou-se num reino pioneiro na expansão marítima, disseminando a sua língua, a sua cultura e a sua fé por recantos longínquos do planeta. Os versos da canção do autor, no Audio Nº1, que aludem a “Timor-Leste à Guiné” e à “CPLP, em coro, se erguer” evidenciam a resiliência e a vitalidade deste legado. A figura de D. Afonso Henriques, como canta o Audio Nº1 do Autor, o “fundador, a língua portuguesa a guiar”, transcende a sua existência terrena para personificar o espírito de um povo resiliente e empreendedor que além de criar um estado medieval gerou também uma nação que é portuguesa. A celebração dos 900 anos da Batalha de São Mamede em Guimarães, a primeira capital portuguesa, não se resume a uma efeméride histórica; constitui uma oportunidade ímpar para refletir sobre a longa e sinuosa jornada que fez Portugal. É um momento para reconhecer o papel vital (de vida ou de morte) daquele 24 de junho de 1128 como um ponto de inflexão, o primeiro momento em que se verteu sangue por Portugal, onde a semente da independência foi plantada e nutrida pela visão e pela perseverança de um rei que, embora ainda não coroado, já o era em espírito e continua a sê-lo na nossa memória coletiva. Tal como a canção conclui, “Afonso Henriques, o teu nome a ecoar, Em cada capital, a força que se lembra… O teu legado, em nós, a perdurar”. Este legado, forjado em Guimarães há quase novecentos anos, no “” fulgor, a arder ” continua a ressoar no coração de milhões de pessoas em todo o mundo, unidas pela língua portuguesa e por uma história comum que as fascina e que teve em São Mamede o seu primeiro e decisivo acontecimento.
  7. A celebração dos 900 anos da Batalha de São Mamede em Guimarães, a primeira capital Portuguesa, não é apenas uma efeméride histórica; é uma oportunidade para refletir sobre a longa e sinuosa jornada que fez Portugal. É um momento para reconhecer o papel vital daquele 24 de junho de 1128 como um ponto de inflexão, onde foi o primeiro momento que se morre por Portugal, onde a semente da independência foi plantada e regada pela visão e pela perseverança de um rei, que não sendo já era e continua a ser. Como a canção conclui, “Afonso Henriques, o teu nome a ecoar, Em cada capital, a força que se lembra… O teu legado, em nós, a perdurar”. Este legado, forjado em Guimarães há quase novecentos anos, continua a ecoar no coração de milhões de pessoas em todo o mundo, unidas pela língua portuguesa e por uma história comum que teve em São Mamede o seu primeiro e decisivo acontecer.
  8. Conclusão: O Eco Perene de São Mamede
    • Ao analisar a génese da nação portuguesa através da lente da Batalha de São Mamede, e permitindo a interpretação visual do autor da Batalha (Figura Nº 1), e que a sensibilidade artística da canção “Afonso Henriques, o Alvorecer de São Mamede” (Audio Nº 1), tenta-se a emergente compreensão mais profunda da natureza fundacional deste momento.
    • Longe de resumir-se a um mero confronto militar, a Batalha de São Mamede emergiu como um crisol. Ali, a veemente aspiração por autonomia fundiu-se com o sacrifício de sangue, consequência do confronto em combate, forjando os primeiros e indeléveis laços de uma identidade coletiva que definiria um povo. Este evento primordial ecoa, nos nossos tempos contemporâneos, o princípio fundamental da autodeterminação dos povos, encontrando em si um exemplo inaugural de movimento de libertação, com os seus primeiros combatentes.
    • As obras de historiadores como Mattoso, Saraiva, Freire, Fernandes e Riley-Smith, referenciadas ao longo desta análise, iluminam a complexidade política e social da época, contextualizando a ação de D. Afonso Henriques e a emergência do Condado Portucalense como entidade distinta. A contribuição do autor, tanto visual quanto musical, procura oferecer uma ressonância emocional e intuitiva a esse período vital, ecoando a “primeira tarde portuguesa” de um território que passou a ser o Reino dos que ansiavam por trilhar o seu próprio caminho.
    • A celebração iminente dos novecentos anos da Batalha de São Mamede em Guimarães convida-nos, portanto, a uma reflexão que transcende a mera efeméride. É um convite a reconhecer as origens, o esforço contínuo na construção de uma identidade e a persistência de um legado, que nascido num confronto, floresceu através da cultura, da língua e da resiliência de um povo. Assim, a memória da Batalha de São Mamede, a 24 de Junho de 1128, perdura como um farol, recordando que a edificação de qualquer grande nação repousa na coragem individual e no fervor de um ideal coletivo.
  9. Referências:
    • Ardant du Picq, Charles. Estudos sobre o Combate. Tradução de T. N. Dupuy.
    • The Military Service Publishing Company, 1946. Clausewitz, Carl von. Da Guerra. Tradução de Maria Teresa. Editorial Labor, 1998.
    • Fernandes, Isabel Cristina. D. Afonso Henriques. Círculo de Leitores, 1990. Freire, António. História de Portugal. Edições 70, 1999.
    • Freitas do Amaral, Diogo. D. Afonso Henriques: Biografia. Bertrand Editora, 2000.
    • Jomini, Antoine-Henri. Compêndio da Arte da Guerra. Tradução de John Muller. Greenwood Press, 1971.
    • Keegan, John. O Rosto da Batalha. Editora Companhia das Letras, 1991. Liddell Hart, B. H. Estratégia. Tradução de Álvaro Cabral. Editora IBRASA, 2007. Mattoso, José (Dir.). História de Portugal (Vol. 1). Círculo de Leitores, 2014.
    • Riley-Smith, Jonathan. The First Crusade and the Idea of Crusading. University of Pennsylvania Press, 1987.
    • Saraiva, António José. História Concisa de Portugal. Publicações Europa-América, 2001.
    • Sun Tzu. A Arte da Guerra. Tradução de Sun Tzu. Editora Martin Claret, 2007.
    • Van Creveld, Martin. Suprindo a Guerra: Logística de Wallenstein a Patton. Tradução de Maria Beatriz Medina. Editora Bertrand Brasil, 1993.
  10. Música Citada:
  11. Figura Citada:
    • Amaral, Gaspar do. (02.05.2025). Interpretação visual da Batalha de São Mamede. Ilustração digital com arte conceitual que representa uma batalha medieval, em Guimarães no campo da Ataca (imagem gerada por IA, referenciada como Figura Nº 1 no texto).

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